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Arquitectura e Biodiversidade. Construção de edifícios amigos das andorinhas e dos andorinhões. Biodiversidade em contexto urbano.


ARQUITECTURA E BIODIVERSIDADE

Nos dias de hoje é fundamental entender que as nossas cidades são ecossistemas e que quanto mais complexos forem, mais seguros e saudáveis serão. Se algumas das espécies que partilham este espaço connosco podem trazer alguns prejuízos, outras prestam-nos serviços de valor inestimável. E para podermos usufruir destes serviços só precisamos de lhes proporcionar um local de abrigo. Entre elas, as espécies insetívoras são aquelas cuja presença nos traz benefícios mais óbvios. É a animais como andorinhas e andorinhões e rãs, osgas e morcegos que devemos o facto de as nossas cidades não estarem infestadas por mosquitos. Urge, por isso, promover a biodiversidade em contexto urbano, protegendo sobretudo as espécies mais sensíveis ou as que nos prestam os serviços de ecossistema mais importantes, de forma a que se possam instalar nos parques, jardins e mesmo nos edifícios que construímos. 

A modernização da arquitetura e das técnicas e materiais de construção tem provado ser um dos principais fatores de ameaça à conservação de andorinhas e andorinhões. Ainda que a urbanização represente uma ameaça à biodiversidade, um planeamento urbano adequado pode ser uma forte ferramenta para a preservação e valorização da biodiversidade. Durante a projeção de um edifício podem ser pensadas soluções que proporcionem locais de nidificação seguros para as aves, sem que os excrementos, que por vezes se acumulam sob os ninhos, causem qualquer transtorno.


EDIFÍCIOS AMIGOS DAS ANDORINHAS 

 

As andorinhas nidificam no exterior de edifícios "colando" os seus ninhos de barro sob cornijas ou vãos protegidos. Ao contrário da generalidade das outras aves que procuram esconder os seus ninhos, as andorinhas como aproveitam a proteção que a parede vertical oferece, não só fazem os ninhos bem visíveis como não têm preocupações com a sujidade que produzem. Quando as pequenas andorinhas eclodem dos ovos, em pouco tempo começa a acumular-se sujidade sob os ninhos, que facilmente denuncia a presença das aves no local e que pode tornar-se um incómodo para quem usa o edifício. 

 

A solução para a promoção da nidificação de andorinhas num edifício, que resulte numa convivência pacífica com estas aves, passa pelo desenho de edifícios que apresentem fachadas com as seguintes características:

  • orientação norte ou nascente

  • mais de 4 metros de altura

  • revestimento da parede rugoso

  • cornijas que protejam os ninhos da chuva e que não fiquem sobre janelas, varandas ou locais de repouso ou passagem

  • não confrontem com obstáculos próximos à altura dos ninhos, como árvores altas ou outros edifícios

 

Com uma fachada que cumpra os requisitos anteriores e fique sobre um local ajardinado, fechamos um ciclo e permitimos que as andorinhas transformem os insetos de que se alimentam em adubo para as plantas que ali crescem.​ A colocação de alguns ninhos artificiais facilita e acelera a ocupação do local pelas andorinhas que procuram nidificar em colónias.


EDIFÍCIOS AMIGOS DOS ANDORINHÕES

Os andorinhões utilizam pequenos vãos abrigados e de difícil acesso no interior de edifícios, que se assemelham aos que existem nas escarpas onde os seus antepassados se reproduziam. Preferem, por isso, construções antigas onde encontrem essas condições, como construções em pedra ou coberturas em telha tradicional. Ao contrário das andorinhas, os seus ninhos são impercetíveis e raramente deixam vestígios da sua presença.

 

Em edifícios modernos, as fissuras entre componentes quase não existem e, por isso, salvo raras exceções, não oferecem condições para estas aves nidificarem. Para que uma nova construção abrigue uma colónia de andorinhões, é necessário que se pensem soluções ainda em fase de projeto, sendo que felizmente existem no mercado produtos específicos para acomodar estas aves.

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Telhas com abertura - é nas estruturas internas dos telhados que a maior parte dos andorinhões citadinos nidificam. A construção de telhados novos e isolados e o restauro de telhados antigos limita o acesso das aves aos sítios onde constroem os ninhos. A incorporação de algumas telhas com aberturas de dimensão adequada (28mm x 65mm) permite que os andorinhões entrem no telhado, mas não os pombos ou outras aves que sejam inconvenientes.

 

Tijolos caixa-ninho - uma das soluções mais práticas para tornar um edifício amigo dos andorinhões é a instalação de tijolos com ninhos incorporados. Embutidos no edifício, preferencialmente em fachadas viradas a norte ou a nascente, oferecem as condições de segurança e isolamento ideais para estas aves, sendo uma solução vulgarmente utilizada noutros países.

 

Ninhos incorporados no edifício - a melhor solução para a valorização da presença dos andorinhões nas nossas cidades é a criação de estruturas nos edifícios que lhes sejam dedicadas. Um bando de andorinhões a entrar e sair de uma estrutura no topo de um prédio, poderá ser uma bandeira da relação entre as cidades e a biodiversidade. Existe, para isso, um sem número de soluções, que passam sempre por criar, numa fachada virada a norte ou a nascente, pequenos vãos (+/-16 dm3) acessíveis por fissuras (28mm x 65mm).


RESTAURO DE EDIFÍCIOS

A demolição e o restauro de edifícios ou fachadas de edifícios leva à destruição de muitas colónias de andorinhas e andorinhões. Com a limpeza e pintura de fachadas são destruídos os ninhos das andorinhas, que com alguma dificuldade e muita persistência os vão tentar reconstruir na primavera seguinte. Já o restauro de telhados e construções em pedra, de uma forma mais drástica, veda permanentemente as fissuras que os andorinhões utilizam como acesso aos seus locais de nidificação.

 

Este fenómeno é recorrente e tem especial impacto porque o período ótimo para a realização de obras de construção e restauro coincide com o período de nidificação das aves. Para além do mais, as colónias não estão referenciadas, não existe informação sobre a sua presença e não existe formação sobre como proceder quando uma colónia se encontra num edifício a intervencionar. Desta forma, são destruídas muitas colónias e muitas vezes ninhos com ovos ou mesmo pequenas crias no interior.

 

É importante lembrar que é proibido destruir ninhos, nomeadamente os de andorinhas e de andorinhões, mesmo que vazios e tanto no período reprodutor como depois de as aves partirem. Por isso, no caso de uma intervenção num edifício onde se constata que existem ninhos de andorinhas ou de andorinhões, a solução passa por pedir uma licença ao ICNF que procura dentro do possível minimizar o impacto que a obra possa ter na conservação das aves.

 

As medidas mais sensatas passam por:

  • tentar que o calendário de obras não coincida com o da reprodução das aves;

  • garantir que os acessos dos andorinhões aos seus locais de nidificação não sejam vedados;

  • instalar caixas-ninho num local próximo, como medida de mitigação.

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