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O declínio das populações de andorinhas e de andorinhões está, entre outras razões, relacionado com o declínio das populações dos invertebrados de que se alimentam. Foi recentemente publicado um relatório sobre o estado das populações de borboletas no Reino Unido e os resultados são desanimadores: 80% das espécies são menos abundantes e a sua área de distribuição diminuiu. Embora as borboletas não sejam a presa mais comum para andorinhas e andorinhões, este grupo evidencia o que está a acontecer aos insetos um pouco por toda a Europa.


No nosso país, infelizmente não temos dados que nos permitam dizer o que está a acontecer às borboletas. Em Portugal, 2023 será o quinto ano em que se faz um esforço concertado para a monitorização de borboletas, estando cerca de 80 locais a serem amostrados, graças à Tagis - Centro de Conservação das Borboletas de Portugal e a todos os que se associaram a esta iniciativa. É um esforço louvável e de felicitar, mas ainda insuficiente e incomparável com o que se faz noutros países.


Preservar andorinhas e andorinhões tem de passar também pela preservação dos insetos de que se alimentam. Para isso é necessário promover usos do solo que beneficiem os invertebrados e a biodiversidade em geral e travar o uso generalizado de químicos, sobretudo inseticidas!



Os andorinhões são voadores exímios capazes de permanecer vários meses em voo, sem nunca parar. Para o conseguirem, têm de manter a plumagem em excelentes condições! É através do cuidar das penas, ou “preening”, que as aves eliminam o pó, a sujidade e os parasitas, e ainda mantêm a elasticidade, a forma e a posição das suas penas. Tal como outras atividades (capturar presas, beber e acasalar), também o “preening” é realizado pelos andorinhões durante o voo.



Estas ações são tão rápidas que passam, na maioria das vezes, despercebidas mesmo aos observadores mais atentos, e apenas vídeos em câmara lenta e a curta distância são capazes de fornecer uma descrição precisa destes comportamentos.


Através da análise dos vídeos do ornitólogo Jean-François percebemos que, ao inclinarem-se para trás, os andorinhões conseguem alcançar a glândula uropigial que segrega um óleo rico em ceras, ácidos gordos e água. Esse óleo é depois espalhado com o bico pelas penas do dorso, do ventre, da cauda e das asas. A manutenção das penas da cabeça e do pescoço é realizada pelas patas: apesar de terem patas muito curtas, os andorinhões conseguem passá-las sob a asa de forma a alcançar essas zonas.


Veja aqui alguns destes movimentos!

Como a maior parte das espécies de andorinhas são migratórias, o número de andorinhas que se pode observar em Portugal varia muito ao longo do ano. Há momentos em que estão quase todas em África e, à medida que a migração começa, umas passam por Portugal em direção a norte e outras ficam por cá, reproduzindo-se e fazendo assim disparar o número de andorinhas que sobrevoam os nossos céus.



Ainda assim, o pico de observações ocorre quando as aves que se reproduziram e nasceram no centro e norte da Europa se juntam às aves que cá estão, preparando mais uma viagem rumo a sul em busca de alimento.


Ao contrário do senso comum e do que a cultura popular nos diz, o momento em que é mais difícil observar uma andorinha em Portugal é ainda no outono . Na segunda quinzena de dezembro e ainda antes do início do inverno , começam a chegar as primeiras andorinhas das várias espécies, que estão a voltar de África. E claro que quanto mais a sul, mais precoces são as observações!


Portanto, se virem andorinhas não pensem que o mundo está do avesso e que é resultado das alterações climáticas. É normal estarem por cá nesta altura. Mas atenção ️: isto não significa que as alterações climáticas não afetem o calendário das andorinhas ou mesmo a sua abundância. Até porque um dos fatores responsáveis pelo seu declínio são mesmo as alterações climáticas. Queremos apenas dizer que as andorinhas começam a regressar da migração, como sempre o fizeram, ainda durante o Inverno!


Quem já viu andorinhas este ano? Boas observações a todos!

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